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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Um dia que afinal, é o nosso.

Com mais de 4 mil milhões de anos de existência, a Terra apresenta-se como a mãe que, num longo sopro, concedeu o milagre da existência humana. Reunindo todas as condições para a propagação de vida gerou ao longo da sua existência tantas e tão diversas espécies, das quais o ser humano faz parte - também ele uma parte desse milagre carbónico que representa a nossa espécie. Diga-se , a única espécie que em mais de 4 mil milhões de anos ameaçou o equilíbrio do seu habitat. A única que no espaço de 50 anos - perfurando cada vez mais a crosta terrestre em busca de mais e mais poder liquefeito - pôs em causa o que parecia impensável: colocar em risco a sua própria espécie(!). As alterações climáticas não são um problema apenas da actualidade; mas são um problema para a posteridade que a cada dia se mostra cada vez mais sem um retorno possível. Mas é tarde demais para ser pessimista: muito pode ainda ser feito, caminhos numa direcção que poderá não ser totalmente errada. Afinal foi essa mesma espécie que pensou o dia 22 de Abril como o dia da Terra.


Yann-Arthus Bertrand, fotógrafo, repórter e ambientalista francês, realizou em 2009 um dos mais proeminentes documentários acerca do panorama ambiental dos nossos dias. "Home" -O Mundo é a nossa casa- merece ser visto por todos e amplamente divulgado, exultado, discutido, mas nunca (!) esquecido. Conta-nos uma história que afinal é também a de todos nós: a história dos nossos tempos, de outros tempos, da formação da "nossa" casa à sede inebriante de progresso do Homem. E se a grande qualidade do Homo Sapiens foi desde sempre reconhecer os seus limites, porque não parar para pensar agora? Um dia que merecia receber atenção todos os dias.

O filme pode ser encontrado na íntegra, ainda que sem legendas disponíveis, em : http://www.youtube.com/watch?v=jqxENMKaeCU

Ou na página oficial: www.home-2009.com/

sábado, 17 de abril de 2010

Le Fabuleux Destin D'Amélie Poulan (2001)



Lirismos absolutos - e que tem de mal?



A fórmula é simples: Paris, a cidade perfeita para um grande romance; um autêntico amor à primeira vista e um destino que pode mudar de rumo a qualquer momento. Resultado: O Fabuloso Destino de Amélie, do francês Jean-Pierre Jeunet. E é mau? Peremptória e incisivamente: Não(!).

Sejamos claros, a história é típica, o enredo repetição lírica e tudo isto seria de facto importante se aqui (como em muitos outros) o importante fosse de facto a mensagem, e não (invariavelmente) a forma desta. Amélie junta a sumptuosidade da imagem, o gosto onírico pelo devaneio e pela criatividade de quem arrisca tudo, longe de uma Nouvelle Vague mas ao mesmo tempo criacionista motivado pela pujança e pela inovação, longe de todo o território conhecido: é o estranho caso de um realizador que se encontra entre o revivalismo e o futuro. As sequências, trabalhadas como se de um álbum de família se tratasse, conjugam na sua forma o timing perfeito e o conteúdo emocional de outro plano. E nem mais: cada plano contém uma quantidade de texturas e cores tão próprias que os julgaríamos intemporais não fossem os rasgos de modernidade reclamarem a sua actualidade. Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz ou Rufus enquandram-se perfeitamente neste carácter dualista de que Jeunet impregna a película; ao mesmo tempo que a banda sonora de Yann Tiersen articula os espaços brancos meticulosamente. Todo este agregado cria o ambiente amélista por excelência que de tão avassalador chega a relegar a jovem que apenas queria ajudar os outros para uma espécie de segundo plano.

Arrebatadora a sequência final, apresentando toda a liberdade que o realizador emprega na obra, não menos lírica e feita de poesia pura que as restantes. Pode não apresentar grandes surpresas nem explorações, mas é uma obra absolutamente livre. E nós gostamos.