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domingo, 10 de janeiro de 2010

Il Postino (1994)

A tutti le cose belle.




Tudo no mundo é uma metáfora de algo.
Assim questiona Mario Ruopollo a determinada altura. Mas não será também assim o amor? A metáfora de um sentimento, a descrição de um lugar-comum impossível de descrever, a forma verbal daquilo que não é corpóreo -tal como as palavras. São elas que nos movem, que nos cativam, que exprimem o mundo da forma como o sentimos -melhor ou pior e quando necessário-.
Sejam elas uma entidade hipotética, não palpável, que nos conduz ao domínio dos sentimentos: sejam elas a exteriorização dos afectos.
E são também as palavras que modulam este clássico.

Bem ao estilo do mais puro cinema italiano, Michael Radford mostra-nos em "O Carteiro de Pablo Neruda" uma fabulosa metáfora de amor, que mais do que isso, se revela um apelo transcendente de vida. De uma forma como apenas o cinema italiano possui a capacidade de fazer, vem tocar nos mais profundos sentimentos de forma simples mas sumptuosa: apegado às gentes, aos ritos e tradições locais mas no entanto tão sublime e profundo como se nada mais existisse.
Philippe Noiret imerge num Pablo Neruda à procura de refúgio na Sicília, deslocado da sua sociedade e da sua pátria. Mario Ruopollo (Massimo Troisi), uma personagem modesta mas de enorme profundidade e credibilidade, é um carteiro cujo dever é entregar a correspondência de Pablo Neruda: e poderia ser a relação entre ambos a totalidade da história. Ainda mais quando se torna verdadeiramente delicioso assistir à representação de um dos expoentes máximos da literacia confrontada com o mais puro exemplo de simplicidade aguerrida.
Seria no entanto redutor à beleza literal do enredo -o romance confere-lhe então essa dose de cabimento narrativo necessária de forma bastante simples: Mario encontra-se apaixonado pela mais bela mulher da pequena aldeia piscatória.
De tal forma que Massimo Troisi nos faz acreditar tanto na parca capacidade de utilização das palavras quanto no seu amor por Beatricce. E é nesse ponto que esta produção se torna num clássico na verdadeira acepção da palavra: não pela antiguidade, pela capacidade de marcar o seu género cinematográfico.
O argumento, a banda sonora, toda a mis-en-scène e as actuações avassaladoras remetem-nos ao ambiente leviano de uma Itália sonhadora, deixam-nos a viajar espontâneamente. Livres de toda a politiquice em que o mundo se embrenha.

Nua a realidade seria desprovida de emoções -simples, na sua aliteração do mar. Terrestre, mínima, transparente. Não a realidade dos que sonham, nem sequer dos que amam. Nua a realidade não seria a hipótese das palavras, não seria o esplendor da vida, não seria a própria vida -dedicada a todas as coisas belas.

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