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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

The Departed (2006)

Aquilo a que se pode chamar "um paradoxo".



Considerado por muitos um dos maiores realizadores da actualidade, quer pela sua peculiar visão do mundo que o rodeia quer pela verdadeira arte da realização, Martin Scorsese é um daqueles realizadores capazes de captar a realidade do seu ambiente na forma original. De nos fazer crer que o mundo que nos mostra não é um produto seu, mas que é o próprio Scorsese um resultado do meio onde cresceu.

I don't want to be a product of my environment. I want my environment to be a product of me. Frank Costello (Jack Nicholson) inicia um dos filmes mais marcantes de Scorsese com esta frase, em jeito de sentença póstuma, que irá juntar a tantas outras do carácter presunçoso da sua personagem. É de infiltrados que "The Departed" trata; de como alguém improvável assume um papel repleto de mentiras e traições. Colin Sullivan (Matt Damon) é talvez o expoente máximo desse mesmo papel, mesquinho e traiçoeiro, capaz de viver na mentira de forma a esconder a sua fraqueza. É também o símbolo da representação da fé de Scorsese na Igreja, o qual pretendia tornar-se sacerdote; é no entanto na personagem de Costello que reúne todo o antagonismo com o realizador - não o vimos a citar autores famosos, odeia a Igreja e não assiste ao que sucede à sua volta, cria-o. E o veterano Nicholson sabe bem como essa dicotomia deve funcionar, dando largas a todo o fetichismo que revelou noutras obras.
William Costigan (Leonardo DiCaprio) serve de contraponto à personagem de Matt Damon, e acrescenta realmente um ponto. Mostra-se como a personagem que viveu um passado terrível e no entanto mantém-se ímpio aos seus princípios, aquilo a que psicologicamente falando se chamaria de paradoxo (fala-se da influência do meio na maturação do ser humano?).
A montagem minuciosamente trabalhada confere-lhe o tom dinâmico de uma cidade como Boston, capaz de prender a atenção durante todo o filme. Reclama para si a forma como o enredo capricha e se desenvolve, através de tiques e manias scorsesianas, que no fim fazem sempre sentido.

Do seu ambiente Martin Scorsese absorveu o tom violento dos bairros nova-iorquinos; durante anos foi perdendo o tão ambicionado Óscar para outros (justa ou injustamente), e tudo aquilo que o poderia levar a fazer um filme politicamente correcto foi renegado. E ainda bem que assim foi. Porque tudo o que Scorsese devolveu ao seu ambiente foi algo muito maior. Com ou sem prémios, porque tanto a vida como a arte, por vezes são injustas.

3 comentários:

  1. Leonardo Dicaprio?!
    Parece-me bem!
    Scorsese?!
    Optimo!
    Irei assistir..Obrigado por nos informares e por essas criticas fabulosas a cerca dos filmes.
    Continua..

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  2. Devo dizer que o senhor é de veras um critico bastante construtivo, e de uma intelecta acima da media!!! Pois bem, tem todo o apoio de um dos seus conterrânios...
    ...desde ja agradecia que desse uma pequena olhada que fosse no meu tambem.
    Ate mais, Sr. Simões

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  3. Gostaria muito de te ver a "desmembrar" o filme "The Hours", ate onde poderias chegar dentro daquele misto de vértices engrenadas, que compõem os sentimentos! Aqui deixo esse desafio para os colaboradores do blog ...espero que o encartem com satisfação.

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