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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Funny Games (1997)

A importância do entretenimento.


A violência existe junto de nós todos os dias, coabita connosco, é um facto inegável. Que se encontre de alguma forma institucionalizada, que por vezes possa ser utilizada em nosso "benefício", que nos seja mostrada em demasia, que seja tolerada e se alegue que desde sempre nos é inerente, são pelo contrário, argumentos questionáveis.
E desde logo as vozes mais iradas levantarão as mais variadas questões acerca de quem permite que esta nos seja mostrada, como podem permitir que as gerações vindouras sejam constantemente expostas a violência, quem tolera semelhante situação?
Nós. E embora pareça redundante aparenta ser a resposta mais correcta. Somos nós, entenda-se aqueles que aplaudem a violência no cinema, quem permite que tal aconteça.
Porque a violência não se mostra; vai-se acumulando e enraizando.
Até que um dia dois jovens imaculadamente vestidos de branco surgem, e aquilo que parecia apenas mais um dia de férias, se torna o espelho de uma violência contida, acumulada. Porque é praticamente impossível deslindar sob a sua aparência aquilo que ocultam.
E ao contrário daquilo que esperávamos, a brutalidade que fora aplaudida em outros momentos, aqui não existe. E se existisse?
Apesar do louco e perigoso jogo das duas criaturas de branco (nas palavras do próprio realizador, Michael Haneke) que matam em tom de jogo infantil e talvez porque 'sim', a violência física propriamente dita é relegada para segundo plano, ou talvez mesmo renegada - e tudo porque é a sua ausência que nos pretende chamar a atenção. Porque se existisse para nós seria normal, mas assim sendo não o é. E porque não?É então, na perspectiva niilista de dois jovens que decidem jogar com vidas alheias (Paul e Peter, Arno Frisch e Frank Giering respectivamente) que Haneke se baseia, criando um labirinto de jogos psicológicos autenticamente fatais, para nos mostrar que afinal existem culpados.
De tal forma que por diversas vezes somos surpreendidos pelas perguntas de um dos jovens, argumentando que em prol do entretenimento continuarão a fazer sofrer o casal e o respectivo filho. Não é isso que queremos? E essa quebra de ficção atinge novos patamares - forma de interacção com o público que Haneke desconstruirá até ao limite. Porque a sua capacidade de produzir violência gratuita não é espantosa (nem necessitava de o ser), porque a sua capacidade de acção é outra: por isso premeia-nos com planos estáticos e intensos em cenas de longa duração, cuja beleza visual nos prende ao ecrã, torturando-nos no bom sentido da palavra (?). E são cenas como as que cria o realizador austríaco que nos trazem inclusive o melhor de cada actor, levando-os também ao limite, tornando mais credível a sua mensagem. São cenas com a pujança daquela em que o filho do casal é morto, que nos presenteiam com o que de melhor há no cinema e em actores como Susanne Lothar e Ulrich Muhe.


Para aqueles que esperam um filme violento, desenganem-se. Brincadeiras Perigosas, na sua versão original ou no remake do próprio director de 2007, é muito mais do que isso.
Para nos mostrar que apesar de haver rumores de violência, e todos sabem que existem, há quem não os compreenda ou sequer os finja compreender. Mas ela continua lá. Para que quando dois sujeitos decidam jogar a vida de um casal, saibamos qual a razão de ser.

4 comentários:

  1. Pior escolha para comentar de sempre..desde já!
    A crítica ta muito boa como sempre, mas este filme é um nojo autentico!
    E outra coisa...Não concordo que não sejam mostrados filmes violentos, nem desenhos animados mais agressivos...Faz bem brincar com a violência!e ás vezes "guerrear" faz bem! Porque soltas o ódio que há em ti na tua infância!E ao "guerreares" de modo saudável, serás um adulto mais pacífico. Provavelmente, por exemplo o maior terrorista do mundo actual, Bin Laden era uma criança que nunca tocou no cabelo de outra para andar à "batatada" e agora só faz vitimas!E posso então falar por experiência própria, porque sempre fui uma criança agressiva. Agora...temos opiniões diferentes!:) não se pode agradar nem a gregos nem a troianos! Só estou então a tentar explicar o meu ponto de vista!
    Obrigado por publicares estas coisas porque uma pessoa (eu, por exemplo) sempre contesta quando acha que tem de contestar!:)
    Boa crítica como sempre!:)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ja tive oportonidade de ver o filme e vi a versão mais recente, penso que não tem diferença quanto a de 1997.
    É de elogiar a forma como o realizador Haneke nos deixa uma espécie de lição moral em cada filme seu, tanto no "Nada a esconder" como neste, deixa-nos a pensar sobre o filme, ficando a historia principal do filme de parte, porque quem vê um filme dele não pode apenas limitar-se a historia principal, pois o mais importante esta nas entre linhas

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  4. Fantástica a forma como Santana Jr. observou as particularidades do realizador Michael Haneke. Muito bem!

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